Artrite Reumatóide

O que é?

Qual a causa?

Como se faz o diagnóstico?

Artrite Reumatóide o que é?

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A Artrite Reumatóide é uma doença crónica, inflamatória, auto-imune que se caracteriza pela inflamação das articulações e que pode conduzir à destruição do tecido articular e periarticular. Existe também uma ampla variedade de alterações extra-articulares.

É uma doença crónica porque não tem cura, mas se eficazmente tratada, tem bom prognóstico vital e funcional. Nos últimos anos, houve uma melhoria substancial no tratamento desta doença. Por um lado, verificou-se uma melhoria nas estratégias de tratamento com uso mais eficaz dos medicamentos modificadores de doença já existentes, e por outro surgiram novos medicamentos.

Os doentes com Artrite Reumatóide frequentemente sentem dor e dificuldade em mobilizar as articulações, mas os sintomas podem ser muito variados. A supressão da inflamação nos estágios iniciais da doença, ou seja o tratamento precoce, pode resultar em melhoria substancial do prognóstico a longo prazo.

A Artrite Reumatóide não é uma doença rara, a sua prevalência (frequência) varia de 0,5-1,5% da população nos países industrializados. Em Portugal estima-se que afete 0,8 a 1,5% da população, com cerca de 40 000 doentes diagnosticados. A ocorrência global de artrite reumatóide é duas a quatro vezes maior em mulheres do que em homens. O pico de incidência nas mulheres é após a menopausa, mas pessoas de todas as idades podem desenvolver a doença, incluindo adolescentes.

Perguntas mais frequentes

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Qual a causa?

Sendo uma doença auto-imune significa que no doente com AR o seu o sistema imunitário não está a funcionar adequadamente, havendo produtos do sistema imune que reagem contra os tecidos do doente.

A causa dessa desregulação do sistema imunitário que acontece na AR é desconhecida, no entanto, investigações estão a ser feitas nesta área e já foram descobertos alguns factores de riscos, como por exemplo o tabagismo. Estudos científicos sugerem ainda que a doença seja causada pela interacção de factores de risco com a existência de predisposição genética.

A inflamação articular é assim desencadeada pela presença de moléculas (citocinas) que interagem com alguns glóbulos brancos causando uma reação inflamatória local e sistémica (em todo o organismo). Este processo traduz-se em edema (inchaço), dor, e, por vezes, rubor (vermelhidão) e aumento da temperatura nas articulações afetadas, gerando incapacidade para as mover correctamente.

Que queixas e sintomas?

A apresentação pode ser muito variável. A presença de artrite (inflamação nas articulações) é uma característica fundamental da doença. A inflamação articular causa alterações características: edema, dor das articulações e, por vezes, rubor e calor. Causa também rigidez, uma sensação de prisão dos movimentos, especialmente no início da manhã ou depois de períodos de repouso.

Frequentemente, a doença começa como uma poliartrite simétrica (mais de 4 articulações inchadas e dolorosas, nos dois lados do corpo). Qualquer articulação com membrana sinovial (membrana que reveste algumas articulações e que produz um líquido que lubrifica, nutre e facilita os movimentos articulares) pode ser atingida, mas geralmente afeta primeiro as pequenas articulações das mãos e dos pés. À medida que a doença progride, mais articulações podem inflamar, incluindo ombros, cotovelos, ancas e joelhos.

Outra articulação que pode estar envolvida é a primeira articulação cervical, entre a primeira e segunda vértebras cervicais, resultando em instabilidade da coluna cervical.

Para além dos sintomas articulares, os sintomas constitucionais (por exemplo, o cansaço, sintomas de gripe, febre, suores e perda de peso) são comuns.

Se não for tratada, a inflamação conduz à destruição progressiva das articulações e sua perda de função. Podem surgir nesta altura deformidades articulares, algumas muito características nas mãos. Ao dano articular, pode adicionar-se perda de massa muscular por atrofia, podendo levar de forma progressiva a dificuldades motoras.

Os tendões estão envolvidos por bainhas e estas são também constituídas por membranas sinoviais, podendo ficar inflamadas, tal como as articulações.

Ocasionalmente, o doente pode ter apresentações mais atípicas, o que pode dificultar o diagnóstico. Nomeadamente quando tem um início súbito ou surge como uma doença mais sistémica, com perda de peso, febre e fadiga e poucas manifestações articulares. Outras vezes, os doentes começam por apresentar inflamação articular de grandes articulações (joelho, cotovelo) e só mais tarde desenvolvem artrite das mãos.

A AR é uma doença que pode afetar muitos órgãos e há outras manifestações da doença:

a) Olhos: Secura ocular (Síndrome seca secundária, chamada “Síndrome de Sjögren secundária”); inflamação ocular (esclerite e episclerite).

b) Pele: úlceras de perna e lesões cutâneas eritematosas (avermelhadas).

c) Nódulos reumatóides: tumefações subcutâneas (debaixo da pele) não dolorosas que ocorrem na maioria das vezes nos cotovelos, joelhos e dorso das mãos. Surgem sobretudo em pessoas com a doença de longa evolução.

d) Sistema Nervoso: Pode ocorrer compressão de nervos periféricos pelo edema articular, sendo comum o “síndrome do túnel cárpico”. Mais raramente, pode ocorrer subluxação atlanto-axial (das duas primeiras vértebras cervicais) o que poderá conduzir a comprometimento da medula espinhal.

e) Sistema respiratório: pode ocorrer inflamação pleural (membrana que cobre os pulmões), e alterações dos pulmões e vias aéreas.

f) Sistema cardiovascular: Pode ocorrer a inflamação da membrana que cobre o coração (pericárdio), o que é pouco frequente. Estudos recentes mostram que a AR contribui para o aumento do risco cardiovascular, existindo um aumento do risco de enfarte agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral.

g) Sistema renal: Raramente envolvido, mas pode ocorrer nefropatia tóxica (pela toma de anti-inflamatórios não esteróides).

h) Fígado: A presença de hepatomegália discreta (aumento das dimensões do fígado) e enzimas hepáticas (transamínases) elevadas são comuns.

i) Outras manifestações: Podem ainda ocorrer distúrbios da tiróide, osteoporose e depressão.

O aparecimento de outras doenças pode aumentar o risco de desenvolver complicações de AR e pode aumentar ainda mais a morbidade e mortalidade, por exemplo, desenvolver diabetes, que associada a AR conduzem a mais complicações cardíacas.

Como se faz o diagnóstico?

O diagnóstico deve ser o mais precoce possível, com iniciação rápida do tratamento. Estudos científicos demonstram que no período inicial da doença há uma oportunidade única para influenciar o progresso da doença. O desafio para o médico é reconhecer os primeiros sintomas e encaminhar precocemente.

O diagnóstico é essencialmente clínico; as investigações são importantes na avaliação e exclusão de outros diagnósticos possíveis.

Algumas das investigações realizadas são inespecíficas, podendo estar alteradas em várias doenças:

a)     Velocidade de sedimentação e proteína C reativa (parâmetros analíticos que traduzem inflamação): na AR costumam estar elevadas, mas podem ser normais.

b)    Hemograma: anemia normocítica normocrómica e trombocitose (aumento das plaquetas) reativa são comuns na doença ativa.

c)     Fator Reumatóide: Deve ser requisitado em doentes com suspeita de terem AR, ou seja, naqueles em que se encontrou artrite no exame objectivo. Este é positivo em 60-70% dos doentes (e 5% da população normal). Pode ser positivo em outras doenças pelo que se deve ter atenção à sua interpretação.

d)    Anticorpo contra péptidos citrulinados (anti-CCP): Deve ser requisitado se suspeita de AR, se o paciente é negativo para o fator reumatóide ou na eventualidade de se ponderar terapia de combinação. Este anticorpo é mais específico do que o fator reumatóide na AR e pode ser mais sensível na doença erosiva.

e)     Anticorpo antinuclear (ANA): pode ser positivo em cerca de 30% dos pacientes com AR

f)     Radiografias das mãos e dos pés: Quandorealizados no início da doença, podemser normais se a doença tiver pouco tempo de evolução. Devem ser repetidos durante a monitrização da doença.

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Como se trata?

O tratamento dos doentes deve ser sempre individualizado e deve ser realizado de forma multidisciplinar. Idealmente, todos os pacientes deveriam ter acesso a uma equipa de profissionais, incluindo médico de familia, reumatologista, enfermeiro, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, nutricionista, farmacêutico e assistente social. Sempre que necessário serão pedidas colaborações com outras Especialidades Médicas.

Sempre que tiver dúvidas sobre algum tratamento deve colocá-las ao seu Reumatologista Assistente. A sua adesão aos tratamentos adequados é fundamental para melhorar o prognóstico da sua doença.

O tratamento da AR deve envolver modalidades farmacológicas e não farmacológicas.

Medidas Gerais: Um estilo de vida saudável deve ser promovido nos doentes com AR.

– Os doentes fumadores devem deixar de fumar.

– Em indivíduos com excesso de peso, é aconselhado a perda ponderal para prevenir o desgaste articular e outras doenças, como hipertensão e diabetes.

– A prática de exercício físico deve ser recomendada, mas sempre orientada pela equipa médica. É aconselhada a realização de exercícios isotónicos e isométricos para fortalecimento muscular e manutenção da função articular, assim como exercícios aeróbicos para otimização do sistema cardiorrespiratório.

Quando há suspeita de AR e enquanto se aguarda pela avaliação por especialistas, as medidas não medicamentosas e tratamento sintomático – como analgésicos não opióides e medicamentos anti-inflamatórios não-esteróides (AINEs) – pode ser instituído. Em qualquer fase da doença, a utilização de analgesia deve ser considerado como um adjuvante.

O tratamento específico da AR inclui:

a)     Analgésicos: como por exemplo o paracetamol, ou analgésicos compostos (paracetamol + tramadol, por exemplo) devem ser oferecidos a pessoas cujo controlo da dor não é adequado, para reduzir potencialmente a sua necessidade de tratamento a longo prazo com AINEs.

b)    Anti-inflamatórios (AINEs): como por exemplo o ibuprofeno, diclofenac, naproxeno, têm indicação para o tratamento sintomático da inflamação na AR, contribuindo para aliviar os sinais e sintomas desta. Têm um rápido início de ação, mas não alteram a progressão da doença nem a incapacidade funcional a longo prazo e podem ter toxicidade importante. A toma simultânea de mais do que um AINE não aumenta a eficácia e resulta em maior toxicidade. Pode ser necessário adicionar um fármaco inibidor da bomba de protões adequado (para proteção gástrica). Há diversos disponíveis, o problema é decidir qual preparação será melhor para que cada doente, visto que as respostas têm variação individual. De um modo geral, os chamados inibidores da COX 2 (“coxibs”) têm menos efeitos gastrointestinais e os AINE’s clássicos menos efeitos cardiovasculares. Os AINEs podem interagir com outros medicamentos ou estarem contra-indicados no seu caso. Pelo que não se aconselha a toma sem prescrição médica.

c)     Corticosteróides (por exemplo, a prednisolona, prednisona, metilprednisolona), em doses baixas podem ser usados em combinação com DMARDs, para controlo de sintomas a curto prazo e a médio e longo prazo para minimizar o dano articular. Pode ser proposto um tratamento de curta duração com doses mais elevadas de corticóides (administrado de forma oral, intramuscular ou intra-articulares) para melhorar rapidamente os sintomas em doentes com diagnóstico recente de AR ou quando surge um surto da doença. Pela existência de efeitos adversos potencialmente graves (diabetes, osteoporose, cataratas), as doses recomendadas pelo seu médico devem ser respeitadas.

a.     Injecções intra-articulares de corticosteróides pode ser usado para:

i.    Fornecer alívio sintomático numa articulação mais dolorosa enquanto se espera pelo efeito dos outros fármacos.

ii.    Aliviar os sintomas de articulações particularmente problemáticos onde o controlo da doença não é bom.

iii.    Tratamento de monoartrite (1 articulação) ou oligoartrite (2-4 articulações) nos casos em que outras medidas são desaconselhadas.

d)    DMARDs clássicos (medicamentos modificadores de artrite reumatóide) são usados isoladamente ou em combinação. Os fármacos mais usados são metotrexato, leflunomida, sulfassalazina, hidroxicloroquina e azatioprina. O início precoce do tratamento com DMARDs é recomendado para controlar os sintomas e sinais de AR, bem como limitar dano radiológico (diminuir o risco de deformidades).

a.     Os DMARD’s devem ser instituídos por especialistas assim que o diagnóstico, evolução e gravidade da doença foram confirmados.

b.    A melhor estratégia de tratamento, conhecida por “Treat to target” estabeleceu que os doentes devem ser tratados com o objetivo de atingir remissão, o que significa aumentar a terapia (adicionar fármacos ou aumentar doses) sempre que a doença não é totalmente suprimida. Por outro lado, sempre que se obtenha controlo da doença por um longo período de tempo, pode-se com cautela tentar reduzir as doses de medicação, mantendo vigilância apertada.

c.     Metotrexato: é o DMARD de escolha, devido ao seu bom perfil de eficácia e toxicidade.

e)     DMARD’s biológicos: são moléculas que modulam as citocinas (proteínas da inflamação) e demonstraram que são eficazes no tratamento da AR, incluindo pacientes resistentes ao metotrexato. A introdução destes medicamentos é feita em situações muito especíicas de acordo com guidelines da Sociedade Portuguesa de Reumatologia. Estão aprovados para o tratamento da AR em Portugal:

a.     Inibidores do fator de necrose tumoral (TNF): infliximab, adalimumab, etanercept, golimumab, certolizumab.

b.    Anti-CD20: rituximab.

c.     Anti recetor da interleucina 6: tocilizumab.

d.    Inibidor da activação das células T (receptor solúvel de CD80 e CD86): abatacept.

e.     Anti-interleucina-1: anakinra.

Outros tratamentos:

a)     Fisioterapia: A realização de fisioterapia deve ser considerada. O plano de reabilitação deve ser definido pelo seu Reumatologista ou Fisiatra, tendo em conta as articulações afectadas e a fase da doença em que se encontra. A realização de fisioterapia passa ainda pelo fortalecimento muscular e treino de actividades de vida diária, por vezes com recurso a instrumentos que o podem auxiliar na realização das suas tarefas (ex: abre boiões, adaptadores da escova de dentes, adpadores de instrumentos de cozinha).

b)    Cirurgia: A opinião de um cirurgião ortopédico ou neurocirugião com um interesse especial em AR deve ser procurada de acordo com indicações específicas, a discutir com o reumatologista assistente. (ver manual)

c)     Dieta e terapias complementares

– Não há fortes evidências de que pacientes com AR irão beneficiar de mudanças na dieta. A dieta mediterrânica pode ser encorajada (mais pão, frutas, legumes e peixe; menos carne; e substituir a manteiga e queijo com produtos à base de vegetais e óleos vegetais), uma vez que está associada a menos risco cardiovascular.

– As terapias complementares podem fornecer o benefício sintomático de curta duração, mas há pouca ou nenhuma evidência de benefício a longo prazo. Se desejar experimentar terapias complementares, não deve substituir o tratamento convencional e esta terapia não devem afetar o atendimento oferecido pelos restantes cuidadores (reumatologista, médico de familia, enfermeiro, fisioterapeuta).

Vigilância:

O diagnóstico de uma doença crónica como a AR implica que os doentes devem ser vigiados regularmente, incluindo consulta médica e a realização frequente de análises de sangue, para analisar a eficácia e efeitos adversos da medicação.

O rastreio e avaliação de outras doenças, deve ser feito de acordo com o que está recomendado para a população em geral. É fundamental que mantenha um acompanhamento regular no seu Médico de Família.

Que consequências pode ter?

Para mim?

O curso clínico é tipicamente caracterizado por períodos de agravamento e remissões. A doença pode ser ligeira (20%) ou grave e progressiva e com má resposta à terapêutica (numa menor percentagem dos casos – 5%). O prognóstico é pior quando o diagnóstico e o tratamento são tardios. A adesão do doente à terapêutica é essencial para melhorar o prognóstico!

Efeitos adversos sobre trabalho e vida social estão relacionados com a gravidade da doença e tempo de evolução e aparecem com alguma frequência. Algumas pessoas com AR têm uma mobilidade restringida e dificuldades com atividades da vida diária. Incapacidade de trabalho pode ocorrer precocemente no curso da doença, especialmente numa pessoa com uma ocupação manual.

A adaptação à doença pode ser difícil. A depressão clínica não é rara e deve ser tratada por profissionais especializados.

Podem ocorrer complicações ortopédicas: síndrome do túnel do carpo (adormecimento e perda de força nas mãos), rotura dos tendões (particularmente extensores dos dedos ou polegar), mielopatia cervical (geralmente em AR graves e de longa data), osteoporose, deformidades articulares com comprometimento funcional.

Podem ocorrer complicações infecciosas tanto pela doença como pelos tratamentos.

Para os outros? (é contagiosa?, transmissão aos filhos?)

A artrite reumatóide não é uma doença contagiosa. As lesões cutâneas que por vezes surgem no curso da doença (nódulos reumatóides, vasculite) também não se transmitem de pessoa a pessoa pelo contacto directo.

Parece existir alguma tendência familiar, ou seja, parece existir um risco ligeiramente acrescido de AR em pessoas com um familiar directo com esta doença. No entanto, a probabilidade de os seus filhos desenvolverem AR é menor do que ade nunca terem a doença. Mesmo em gémeos monozigóticos (verdadeiros), a probabilidade de o gémeo (padecendo o irmão de AR) é de 1 em 5.

Entre parentes com a mesma doença, a severidade da doença e resposta às diferentes terapêuticas varia entre os elementos da família.

Como prevenir?

Não se sabe como prevenir a AR. O surgimento desta doença resulta de uma interação complexa de múltiplos fatores genéticos, imunológicos e ambientais, cuja influência exata na origem da doença ainda está por determinar.

Sabe-se que o tabagismo aumenta o risco de desenvolver AR com anticorpos anti-CCP positivos em indivíduos com suscetibilidade genética. Foi também observado em estudos científicos um risco aumentado de doença em ex-fumadores sem hábitos há mais de 10 anos. Não sendo o único fator relacionado com a doença, aumenta, porém, o seu risco e gravidade. Neste contexto, não iniciar hábitos tabágicos poderá ser uma forma de diminuir o risco de doença, não prevenindo o seu aparecimento na totalidade. Além disso, é de salientar que o tabaco constitui um reconhecido fator de risco cardiovascular, cuja suspensão traz um grande benefício na prevenção de eventos cardiovasculares, já de si mais prevalentes em doentes com AR.

Há outras causas e fatores de risco da doença possivelmente associados à AR (infeções, obesidade, exposição ocupacional óleos minerais, entre outros) cuja influência ainda permanece por comprovar.

Embora não se previna a AR, o diagnóstico e tratamento precoces, adesão ao tratamento e a adoção de certas medidas não farmacológicas, são da maior importância para prevenção das suas complicações.

Cirurgias?

Programar uma cirurgia

Os doentes com Artrite Reumatóide podem ter que ser operados. As operações (cirurgias) de “urgência” não podem ser preparadas pois acontecem inesperadamente. Deve ter sempre consigo o nome dos medicamentos que toma para poder informar o médico que o vai operar e poder decidir sobre a necessidade de ter que suspender os medicamentos que toma ou fazer medicação adicional, nomeadamente antibióticos preventivos, devido ao aumento de risco de complicações infecciosa que os doentes com Artrite Reumatóide apresentam.devido à doença e à medicação.

As cirurgias programadas ou electivas são aquelas em que o médico marca o dia para a operação com antecedência, evitando alturas em que esteja mais doente ou com infecções.

Pode ter que ser operado às suas articulações (cirurgia ortopédica) ou a algum órgão (nariz, ouvidos, vesícula, próstata, útero, mama, etc). Há cuidados gerais que deve ter, para além de se informar sobre os riscos e benefícios da cirurgia que lhe propõem e qual a que melhor se adequa ao seu caso.

Dependendo da cirurgia pode ou não ficar internado. Há cirurgias que já são feitas em “ambulatório”  – o doente não fica internado e vai para casa nesse mesmo dia.

Tenha em conta as seguintes informações e conselhos…

Conselhos

  • Pergunte a que vai ser operado e qual o objectivo
  • Confirme qual o melhor momento no decorrer da sua doença para fazer a cirurgia
  • Saiba o que pode melhorar ou não com a cirurgia  – não crie falsas esperanças
  • Envolva a família e prepare a casa caso necessite depois de apoio ou cuidados especiais
  • Se for realizar uma cirurgia às articulações pergunte ao médico se é preciso usar talas, ou canadianas após a operação. É também importante confirmar o tempo necessário de repouso após a operação e quanto tempo depois pode fazer peso/carga/esforços  na articulação.
  • Saiba quanto tempo demora até retomar a sua actividade profissional
  • Saiba se precisa de fazer um programa de medicina física e de reabilitação (fisioterapia)
  • Perca peso se tiver excesso de peso e faça uma dieta equilibrada, de preferência associada a exercício para ter os seus músculos fortes para ajudar na recuperação
  • Informe o seu médico sobre a medicação que está a tomar e pergunte quais deve suspender
  • Informe o médico se estiver com alguma queixa que possa estar relacionada com uma infecção e possa por isso complicar a cirurgia

Objectivos principais das cirurgias ortopédicas:

  • Reduzir a dor numa articulação muito afectada e que não melhora com os medicamentos para a dor e inflamação
  • Melhorar a função numa articulação muito deformada e com mobilidade muito diminuída

Tipos de cirurgias ortopédicas:

  • Remoção do tecido inflamado da articulação (sinovectomia cirúrgica)
  • Tirar nódulos da pele que surgem em alguns doentes
  • Descomprimir nervos que possam estar comprimidos pela inflamação de uma articulação e dos tecidos à volta
  • Reparar roturas de tendões de músculos
  • Retirar uma pequena parte do osso de alguns dedos para corrigir deformações das mãos e / ou pés para ficarem mais alinhados
  • Artroscopia para “ver” com uma câmara dentro da articulação o que se passa lá dentro e poder limpar a articulação e “reparar” alguns tendões e ligamentos
  • Substituição de parte ou completa da articulação – prótese (artroplastia parcial ou total)
  • Fixar uma articulação  – fica fixa sem movimento (artrodese)

Complicações possíveis das cirurgias

  • Manter limitação de função da articulação e / ou alguma dor
  • Dificuldade na cicatrização da ferida operatória
  • Infecção da pele, da articulação ou outra
  • Trombose de veia da perna (flebotrombose)

Medicamentos e cirurgias:

Os doentes com Artrite Reumatóide que vão ser operados de urgência não conseguem suspender com antecendência alguns dos medicamentos que estão a fazer e que poderiam interferir com a cirurgia.

Nos casos de a cirurgia ser programada fale com o seu médico para saber quais os medicamentos que pode manter e os que tem que suspender antes da operação, e com quanto tempo de antecedência.

Depressão na Artrite Reumatóide

O diagnóstico de Artrite Reumatóide pode surgir como uma experiência difícil e provocar alguma ansiedade, angústia e sentimento de revolta. A condição de doença crónica afecta em várias vertentes a maneira de encarar a imagem pessoal, a relação com os outros e até a própria vida.

A fase inicial é mais difícil pela intensidade das emoções e pela quantidade de informação que lhe vão dar sobre a doença, os tratamentos, seus possíveis efeitos secundários e necessidade de consultas e análises regulares. Muitas vezes não se consegue ouvir nem compreender tudo o que é dito. Pergunte, várias vezes se for preciso!

Com o tempo vai começar a adaptar-se à nova realidade e vai conseguir encontrar o seu equilíbrio. Caso não consiga: peça ajuda! Procure ajuda entre a sua família, amigos e/ou profissionais de saúde que o acompanham.

É normal sentirmo-nos tristes por estarmos doentes ou quando temos uma contrariedade / desgosto na vida pessoal – chama-se tristeza normal. Pode causar impacto no sono e no apetite, ter dificuldades de concentração no trabalho e maior irritabilidade. Neste caso, estes sentimentos são geralmente ondulantes ao longo do dia, mas a pessoa continua a ter prazer em alguns aspectos da sua vida, podendo não causar limitação nas actividades sociais habituais. Este tipo de tristeza é limitada no tempo, geralmente breve e não beneficia com medicação.

A depressão é diferente de tristeza porque permanece no tempo e apresenta mais sintomas. É tratável e beneficia com medicação. Alguns dos sintomas incluem: tristeza persistente, sentimentos de desespero e de culpa, sensação de que nada o (a) anima, perda de interesse por actividades que antes lhe davam prazer, dificuldade de concentração, de memória e de tomar decisões, insónia ou sono excessivo, falta de vontade para enfrentar o dia-a-dia e de sair da cama, irritabilidade, choro fácil, sensação de mais dor física mal localizada, pensamentos sobre a dor e suicídio,…

Lembre-se que trocar emoções é a melhor maneira de manter a sua saúde emocional e estreitar os laços com os que o (a) rodeiam e de quem gosta. Partilhe com eles o que está a passar e não evite o convívio! Disponha de tempo para actividades com eles e não tenha receio de partilhar as suas necessidades. Não esconda demasiado tempo os seus sentimentos. Se mantiver estes sentimentos de forma prolongada – peça ajuda!

Se lhe forem dados medicamentos para a depressão: tome-os da forma que lhe foi indicada e informe o seu médico caso não os esteja a tomar, para evitar mal entendidos e prescrição desnecessária de mais medicamentos.

Os doentes com depressão podem recorrer à ajuda de especialistas na área da Psicologia e/ou Psiquiatria. Existe também a Associação Nacional de Doentes com Artrite Reumatóide – a “ANDAR” – que é uma associação de pessoas com a sua doença e onde pode encontrar grupos de inter-ajuda e mais explicações úteis sobre a Artrite Reumatóide.

Sexualidade e Gravidez na Artrite Reumatóide

SEXUALIDADE

A artrite pode interferir fisica e emocionalmente com o desejo e acto sexual, como consequência da dor e inflamação das articulações, a fadiga, a limitação de movimentos, a interferência na auto-estima e a presença de eventual humor depressivo.

Converse com o seu parceiro (a) – a partilha aumenta a intmidade do casal. Tente encontrar formas de relaxamento e redução da dor antes do acto sexual como, por exemplo, tomar um banho quente antes, pedir uma massagem ao parceiro (a), tomar os seus comprimidos para a dor uma hora antes.

FERTILIDADE

A fertilidade da mulher e do homem com Artrite Reumatóide é geralmente normal, mas pode ficar afetada por alguns medicamentos. Além disso, alguns medicamentos para a Artrite podem aumentar o risco de aborto e outros podem causar malformações nos bebés. Fale com o seu médico sobre os medicamentos que está a tomar e de que forma podem afetar a sua fertilidade e se tem que os suspender antes de engravidar /ou da parceira engravidar.

GRAVIDEZ

A gravidez é um momento muito especial para o casal, sobretudo para a mulher. Deve ser planeada com antecendência para um momento em que a doença esteja controlada e tenham sido suspensos pelo médico os fármacos que possam causar malfomações ao bebé.

Durante a gravidez pode sentir-se mais cansada, com mais dores nas costas e joelhos e sentir as pernas mais inchadas e pesadas, o que está relacionado com o aumento de peso e volume da barriga e com retenção de líquidos nesta fase.

A Artrite Reumatóide durante a gravidez não tem tendência a agravar e a maioria das mulheres sente-se melhor das dores relacionadas com a doença, contudo deve manter o seguimento habitual no seu médico e há medicamentos que pode tomar para controlar a doença e as dores sem que isso afecte o seu bebé.

Deve também fazer o seguimento da gravidez no seu médico de família e/ou obstetra, seguir os seus conselhos e fazer os exames recomendados na gravidez.

PARTO

No parto pode ter mais dores se tiver problemas nas ancas, joelhos e pés, mas não existem riscos acrescidos para as mães com Artrite Reumatóide se tiveram um adequado seguimento durante a gravidez e sem problemas de novo. Deve informar o médico e enfermeiros da sua doença, complicações que tenham surgido na gravidez (ex: diabetes, tensão alta) e medicação que está a tomar.

Não existe risco aumentado nem necessidade formal de cesariana, salvo indicação médica.

AMAMENTAÇÃO

A amamentação é um período de grande cumplicidade entre mão e filho (a) e deve ser estimulado, também pelos benefícios para a criança reconhecidas no leite materno. Durante o período de amamentação há alguns cuidados que deve ter em conta dependendo da medicação que estiver a fazer, dado que há medicamentos que não são recomendados nesta fase.

POSSO TRANSMITIR A ARTRITE AO MEU BEBÉ?

A artrite tem uma base genética, mas não é necessariamente hereditária e há pouca probabilidade de passar a doença ao seu bebé.

Fale com o seu médico se planeia ter filhos.

FÁRMACOS NA GRAVIDEZ / AMAMENTAÇÃO

Há vários medicamentos que são permitidos durante a gravidez e amamentação, seja para a própria gravidez ou para controlo dos sintomas da artrite. Contudo, existem outros que não devem ser tomados dado terem riscos para o bebé, nomeadamente malformações, risco de baixo peso e parto prematuro.

Deve informar-se sobre:

– Os medicamentos que pode manter durante estes períodos e se pode haver alterações de dose.

– Os medicamentos que não pode tomar durante a gravidez e amamentação

– Quanto tempo antes de engravidar tem que suspender os medicamentos que está a tomar e que sejam considerados contra-indicados nestas fases

OUTROS CONSELHOS

· Durante a gravidez e amamentação não se esqueça de manter um estilo de vida saudável para se proteger a si, às suas articulações e sobretudo ao seu bebé.

· Tenha cuidado com a sua alimentação e evite aumentos excessivos de peso.

· O exercício físico é importante mas deve ser adaptado às suas capacidades físicas, ajustado ao tempo e condições da gravidez. Além disso também depende da actividade física que fazia antes de engravidar.

Queixas secas na Artrite Reumatóide

A Artrite Reumatóide pode associar-se à presença de sintomas de secura em várias glândulas do corpo, sendo as mais frequentemente afetadas as da boca (glândulas salivares) e as dos olhos (glândulas lacrimais). Esta situação clínica denomina-se Síndrome de Sjögren e é causada pela lesão inflamatória dos tecidos das glândulas provocada pela perturbação do sistema imunitário existente na Artrite Reumatóide.

Secura da boca – Xerostomia:

São queixas de diminuição da produção de saliva, alteração da composição da saliva e aumento da sua viscosidade. A boca fica seca, causando dificuldade em falar, mastigar e engolir alimentos. Pode haver diminuição da sensibilidade para o amargo e aumento da sensibilidade para outros alimentos, sensação de sabor metálico desagradável, maior risco de cáries dentárias e queda de peças dentárias.

Secura dos olhos – Xeroftalmia:

Sensação de secura dos olhos por diminuição da produção de lágrimas. Pode manifestar-se como sensação de ardor frequente ou de “areia nos olhos”, “comichão” nos olhos, olho vermelho, incómodo com a luz solar. Pode complicar-se com feridas / úlceras locais (córnea) pelo que deve ter-se cuidado como a correcta hidratação / lubrificação do olho Deve consultar um oftalmologista para lhe indicar os produtos mais adequados a utilizar.

Outros sintomas:

Para além da secura da boca e olhos, esta complicação pode afectar o aparelho respiratório, a pele e os orgãos sexuais.

Aparelho respiratório: tosse seca e irritativa, secura da traqueia. Evite ambientes demasiado secos e com tabaco.

Pele: pele seca e descamativa com comichão. Use creme hidratante para proteger a sua pele e use produtos de limpeza pouco activos.

Vagina: diminuição da lubrificação vaginal. Existem produtos específicos / lubrificantes locais para o efeito.

Conselhos para a boca seca e alterações do paladar:

·   Visite o seu dentista com regularidade para eliminar problemas dentários que afectem ainda mais o sabor dos alimentos e manter uma correcta higiene dos dentes e diminuir o risco de cáries

·   Evitar o tabaco e ingestão de bebidas alcoólicas

·   Faça refeições pequenas e frequentes

·   Aumente o consumo de líquidos e beba água com frequência

·   Beba água com algumas gotas de limão ou laranja

·   Bocheche frequentemente a boca com águas minerais

·   Tome pequenos goles de água ou dissolva na boca pequenos cubos de bebidas congeladas para ajudar a engolir e a falar com mais facilidade

·   Use pastilhas elásticas e rebuçados (sem açúcar)

·   Não force a ingestão de alimentos que lhe estejam a saber mal

·   Prefira alimentos macios e húmidos

·   Ingira alimentos à temperatura ambiente

·   Experiente alimentos aromatizados com especiarias suaves: orégãos, rosmaninho, salsa, manjericão

·   Experimente tartes de frutas que possam ter sabores mais intensos mas agradáveis (tarte de limão)

·   Incorpore alimentos mais frescos nas refeições (gaspacho, sopas frias, gelados de leito ou frutas)

·   Os alimentos  sólidos tornam-se mais suaves com adição de molhos marinados suaves, caldos de carne, sumos de fruta, manteiga derretida, maionese, iogurte, temperos de saladas ou natas

·   Pode consultar um nutricionista para identificar os seus gostos e aversões de forma a elaborar um plano alimentar adequado

Alimentos habitualmente bem tolerados:

·   Purés (batata ou vegetais)

·   Saladas temperadas

·   Alimentos suavizados com molhos

·   Cremes de fruta

·   Cremes de leite e pudins

·   Carnes e peixe picados ou incorporados em cremes e caldos

·   Frutos com elevado teor de água (melancia, melão, morangos)

Alimentos habitualmente mal tolerados:

·   Alimentos sólidos, secos ou ásperos (pão, bolachas)

·   Néctares ou líquidos espessos

·   Alimentos muito quentes

·   Cremes ou sopas espessas

·   Carnes e peixes não picados ou sem molhos

·   Gelatina

·   Alimentos amargos

·   Alimentos muito condimentados

·   Alimentos salgados

·   Alimentos gordurosos

·   Bebidas alcoólicas

Outras causas de queixas secas:

·   Ser próprio com o avançar da idade e não significa doença

·   Medicamentos usados para tratar a depressão

·   Outras doenças como a diabetes

Tratamento com medicamentos:

Aconselhe-se com o seu médico sobre medicamentos que possam ajudar a aliviar estes sintomas, como por exemplo:

·   Estimulantes de saliva

·   Produtos de aplicação local na boca

·   Lágrimas artificiais e lubrificantes oculares

Viajar com Artrite Reumatóide

Para o doente com Artrite Reumatóide viajar pode ser desconfortável e doloroso. Mas isso não deve ser motivo para desistir. No entanto, aconselhe-se sempre com o seu médico antes de planear uma viagem.

Estes conselhos podem ser úteis:

·   Antes de viajar e caso seja por um período prolongado, aconselhe-se como o seu médico sobre os cuidados necessários a ter:

o    Assegurar que está com saúde para a viagem

o    Necessidade de vacinas ou medicação de prevenção para algumas doenças comuns no destino

o    Medidas de estilos de vida a evitar no destino (em paises em desenvolvimenot e clima quente evitar agua não engarrafada, gelo nas bebidas, alimentos mal cozinhados e/ou com maionese/ natas)

·   Leve receitas e/ou medicação suficiente para a viagem contando com eventuais atrasos no regresso ou caso queira prolongar a estadia;

·   Se necessário levar listagem de medicação e/ ou declaração de necessidade de bolsas térmicas e ou agulhas (medicamentos injectáveis);

·   Verifique que se tem o seu cartão de saúde e condições de assistência médica

·   Pondere a necessidade de seguro de viagem e/ou saúde

·   Prefira malas com rodinhas para transporte dos seus pertences;

·   Use roupa e calçado confortáveis;

·   Sente-se sempre de maneira correcta para evitar dores nas costas e nas pernas

·   Se viajar de carro faça pausas frequentes para descansar e andar um pouco

·   No caso de ter que percorrer longas distâncias nos aeroportos, estações de comboios ou autocarros, não se intimide caso necessite de solicitar uma cadeira de rodas;

·   Se viajar de avião:

o    Assim que embarcar, solicite travesseiros extras, já que geralmente não há muitos nos aviões, e explique o porquê do seu pedido

o    Use um travesseiro de avião como apoio, tanto para as partes inferior e média das costas como para o pescoço;

o    Sente-se nas filas com mais espaço (geralmente a primeira e a fila da saída de emergência) ou corredor, para ter mais espaço para as pernas;

o    Informe o pessoal de bordo se precisar de se levantar e alongar e explique a sua situação;

o    A desidratação é comum durante os vôos e pode afectar a acção da medicação no seu organismo. Por isso, leve ou peça água durante a sua viagem;

o    Se tiver dificuldade em se deslocar à casa de banho, peça ajuda ao pessoal de bordo;

Não evite o convívio familiar e social pela sua doença mas faça-o de forma correcta e devidamente preparado.

Boa viagem!